Entrevista: Letícia Mello – idealizadora do projeto “Do For Love”

Letícia Mello abriu mão de tudo e resolveu voluntariar seis meses no Sudeste Asiático. Planejar o voluntariado, pesquisar o máximo de informações, conversar com pessoas que já passaram pela mesma experiência, foram alguns dos maiores desafios encontrados antes de partir para sua aventura. Letícia é a idealizadora do projeto “Do for Love” (www.doforloveproject.com), e com base nas experiências enriquecedoras e gratificantes da viagem, recentemente acabou transformando essa bela história em um livro.

MV: Qual o principal motivo que a impulsionou a voluntariar no Sudeste Asiático?

L: Eu sempre viajei, mas viajar só por viajar não fazia mais sentido. Foi então que eu percebi que precisava dar um sentido maior para as minhas viagens, precisava fazer com que a minha paixão por viajar impactasse de alguma maneira a vida das pessoas. Foi então que eu refleti e decidi que viajaria para voluntariar. Essa necessidade de fazer com que a minha paixão por viajar deixasse um legado no mundo foi o maior motivo que me impulsionou a passar seis meses no Sudeste Asiático, como voluntária em projetos locais.

MV: Por que a escolha do Sudeste Asiático? Algum outro local que você pensou ou pense ainda voluntariar?

L: A minha primeira visita à Ásia  foi quando eu morei na Austrália. No retorno da Austrália para o Brasil eu parei 15 dias na Indonésia, em Bali. Foi instantâneo: eu me apaixonei pela cultura, pela religião e pela diferença cultural. Tudo me encantava: o cheiro, as cores e principalmente as pessoas. Geralmente eu viajava para países desenvolvidos, para trabalhar e poder me manter enquanto viajava, então tinha tido poucas chances de vivenciar países com uma cultura totalmente diferente. E foi isso que me encantou sobre o Sudeste Asiático. Eu tenho vontade de voluntariar em todos os países do mundo se fosse possível. Sempre deixo meu coração ser meu guia nas escolhas dos países que vou voluntariar, então não tenho muitos planos, só a certeza de que vou voluntariar em muitos outros países, independente de quais sejam.

MV: Como foi a receptividade das pessoas com quem você conviveu nos países visitados?

L: Sempre me receberam como parte da família, compartilhando tudo o que tinham e se preocupando comigo sempre. Costumo dizer que eles cuidavam melhor de mim do que eu mesma

MV: Tailândia, Camboja e Vietnã são países que o Maior Viagem ainda não conhece. Quais pontos turísticos você considera imperdíveis nesses países?

L: Vou tentar fugir um pouco do óbvio. Com certeza as ilhas ao sul da Tailândia são lindas, mas existem diversas ilhas na região que nem sempre são exploradas. Outra dica é o Norte da Tailândia, a região de Chiang Mai.

No Camboja, não posso deixar de citar o Angkor Wat em Siem Reap, mas poucas pessoas sabem que as ilhas do Camboja são paradisíacas e valem muito a pena, são mais baratas e menos desenvolvidas se comparadas com as da Tailândia. Passar pela capital do país para conhecer um pouco da história do genocídio cambojano é uma experiência inesquecível.

No Vietnã eu recomendo Halong Bay e a cidade de Sapa, no norte do país. Outra dica é que o Vietnã é um lugar excelente para quem quer se aventurar de motocicleta, eles oferecem todo o apoio por preços ótimos, mas não recomendo para iniciantes.

MV: Com base na sua experiência, qual o tempo ideal para voluntariar em outro país?

L: Pelo menos um mês. Voluntariar não é fazer turismo, é realmente se envolver, aprender e mergulhar na cultura local. Dependendo do país e de cada pessoa, existe um período de adaptação ao clima e a comida. E acredito que um mês é um período mínimo também para você poder acompanhar o desenvolvimento do seu trabalho na comunidade, seja ele de ensinar, construir ou o que for.

MV: Como surgiu a ideia do projeto “Do For Love”? Conte um pouco mais sobre ele.

L: Surgiu desse desejo de fazer algo mais do que simplesmente viajar. Eu tinha trabalhado um verão inteiro e tinha um pouco de dinheiro guardado, só que não era muito. Fui atrás de agências e os valores cobrados eram muito altos para o meu orçamento e para o tempo que queria ficar. Então ao invés de desistir, eu resolvi que criaria o meu próprio projeto e iria atrás de projetos pelo mundo onde realmente fosse possível viver uma troca real, nesse caso, voluntariando em troca de comida e um lugar para comer. Dei o nome de “Do For Love” e com um orçamento de 500 dólares por mês parti para o Sudeste Asiático em busca desses projetos. Criei uma Fanpage e compartilhava despretensiosamente com os meus amigos as histórias que vivia. Foi aí que eles começaram a me pedir para escrever um livro que contasse a história na íntegra. Demorou, mas o livro saiu. Ou seja, quando eu viajei, não tinha intenção nenhuma de escrever um livro ou nada disso. Era simplesmente um projeto pessoal, no qual eu queria me colocar nos meus limites e ver se era possível viver essa experiência que até então era somente uma utopia para mim.

MV: O que não pode faltar na bagagem de quem vai voluntariar?

L: Muito amor, coragem e o desejo de doar-se verdadeiramente àquela experiência. É essencial ter uma pochete porta documentos (modelo Money Belt) e algumas peças de roupa.

MV: Uma dica ao leitor do Maior Viagem que pretende voluntariar em outro país.

L: Você vai viver a experiência mais enriquecedora da sua vida! Deixe todas as vaidades, limites e expectativas para trás e parta para essa experiência de coração aberto para viver de forma intensa e verdadeira tudo isso. Algumas dificuldades podem surgir, mas são elas que nos fortalecem. Siga seu coração e se jogue nessa experiência, tendo a certeza de que você vai aprender muito mais do que ensinar.