Apocalipse nos Trópicos: Documentário escancara crescimento da influência evangélica na política

Obra mostra o crescente movimento político-pentecostal

Novo documentário de Petra Cista está disponível na Netflix Crédito: Divulgação

O documentário “Apocalipse nos Trópicos”, que estreou no Netflix em julho deste ano, propõe apresentar ao grande público as lentes do crescente movimento político-pentecostal da ‘Teoria do Domínio’ e o quanto esta filosofia evangélica moderna é capaz de influenciar na política brasileira.

Sem dúvida, poucos documentaristas brasileiros conseguiram capturar o horizonte político nacional contemporâneo como Petra Costa: a cineasta, que viralizou após o amplamente debatido “Democracia em Vertigem”, de 2019.

Para além de explicar as raízes deste movimento religioso e por muitos considerado radical, o novo documentário de Petra surpreende ao jogar luz nos bastidores do poder e da fé, trazendo entrevistas reveladoras com figuras como o pastor Silas Malafaia, que serve como uma espécie de protagonista implícito na narrativa.

Um dos maiores nomes deste movimento no país, o líder político-religioso não se acanha em dizer o quanto de fato é capaz de manipular a política nacional – inclusive, dando detalhes de como o fez e faz. As câmeras e microfones alcançam tanto o palácio do planalto em plena gestão Jair Bolsonaro (PL), considerado como o primeiro presidente eleito pelos teóricos-do-Domínio, quanto a campanha de Luís Inácio Lula da Silva (PT), em 2022, que enfrenta o dilema de como alcançar e ouvir a população evangélica.  

O documentário, todavia, não se resume a olhar para espaços de poder, luxo ou grandeza: em relatos reveladores com famílias e fiéis, é possível compreender o impacto de filosofias neopentecostais no comportamento social e político de toda uma população, em especial, a atravessada pela fé evangélica. A compreensão do léxico, das vivências, enfim parece traduzir os conceitos filosóficos antes apresentados pelos ideólogos que montaram este movimento. 

A proposta de intimidade, seja com figuras de poder ou de extrema simplicidade, permite um retrato cru e controverso de um país em plena transformação: quais as influências por trás de um segmento que, nos últimos censos, alcança quase ⅓ dos brasileiros? Além disso, o que os instiga a perseguir estes vieses? Desmistificando preconceitos e ideais ultrapassados sobre este segmento, “Apocalipse nos Trópicos” é capaz de nos mostrar o quão humanas são as razões pelas quais chegamos aonde chegamos, e, também, o quão poderosos os púlpitos e televangelistas se tornaram no Brasil pós-redemocratização. 

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