Entrevista: Gilberto Scofield – Jornalista

Gilberto Scofield é jornalista e atualmente consultor de comunicação da Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Foi correspondente do jornal O Globo por quase cinco anos em Pequim (China), viajando nessa época a trabalho e a passeio para diversos destinos da Ásia, e dois anos em Washington (Estados Unidos). Durante sua experiência morando em outros países escreveu os blogs “No Império – impressões de um brasileiro na capital dos EUA” e “No Oriente – diário de um brasileiro na China”, além de lançar o livro “Um brasileiro na China”(2006).

MV: Qual a sua Maior Viagem? Por quê?

G: Bem, eu morei na China durante quatro anos e meio entre 2004 e 2008, então posso dizer que conhecer boa parte da Ásia foi minha maior viagem. Daqui do Brasil, é uma viagem longa e cara, então estar já na Ásia foi uma forma de simplificar e baratear as viagens aos países da região. Assim, pude conhecer a própria China, Japão, Coréia do Sul, Vietnã, Tailândia, Indonésia, Cambódia, Malásia e Cingapura. Até para a Nova Zelândia fui. De todos os países, o mais interessante, em todos os sentidos, foi a Tailândia. Nada se compara àquele país em termos de gente, comida, população, história, costumes e natureza.

MV: Como você definiria a sua vida no período em que você morou na China?

G: Foi difícil, muito difícil. Primeiro porque eu sou jornalista e o país é uma ditadura que detesta jornalistas. Segundo porque os chineses não são exatamente integradores. E a maior prova disso é a quantidade de Chinatowns espalhadas pelo planeta, pequenas ou grandes tentativas de reproduzir a China em outros locais diante da incapacidade dos imigrantes de absorver a cultura local e se misturar aos nativos. Tirando meus tradutores, não fiz amigos chineses. Meus amigos eram os expatriados por lá.

MV: O que é mais importante para um viajante ter em mente quando for conhecer a China? Qual seu conselho?

G: Que nem todo mundo  fala inglês, a língua é dificílima e há uma enorme dificuldade de comunicação por conta disso. Viagem à China não é pegar um guia do Lonely Planet e apostar na tentativa e erro. É preciso um bom planejamento e, de preferência, algum apoio local ou contar com empresas de turismo que trabalham há muito tempo com o país.

MV: Você escreveu um livro contando suas experiências na China. Lembra de alguma em especial que te marcou muito?

G: Minha visita a um restaurante especializado em pênis em Pequim. Inesquecível. E não, eu não tive coragem de comer nada.

MV: Você teve oportunidade de conhecer muitos lugares por conta do seu trabalho. Sobrava tempo para visitar os locais para onde você ia? Como conseguia conciliar isso?

G: Sobrava tempo e dinheiro, por incrível que pareça. A Ásia é muito barata, então todo o feriado prolongado no Brasil – e férias – a gente usava para conhecer a Ásia.

MV: Qual local você ainda não conheceu mas gostaria de conhecer?

G: Islândia

MV: Existe algum lugar que você conheceu e não gostou? Por quê?

G: Tirando Báli, a Indonésia. É um lugar opressivo, quente, pouco amistoso, ainda pautado por certa tirania religiosa. Bali, apesar de fazer parte da Indonésia, é um outro mundo, o único lugar do país onde a religião predominante não é o Islã. Bali é um pequeno paraíso.

MV: Janela ou corredor?

G: Corredor, sempre.

MV: O que não pode faltar na mala?

G: Um bom guia.

MV: Uma dica de viagem para o leitor do Maior Viagem.

G: Se joga de cabeça aberta. E sempre tire um dia para sair pelo lugar sem compromisso fixo. Nada de museu, ponto turístico ou compromisso fechado. Apenas preste atenção nas pessoas, nos hábitos, nos mercados, nas lojas. Ande por ruas pouco óbvias (em locais seguros). Entre naquele restaurante que não está no guia, mas você olhou a achou uma graça. Tente entrar em contato com as pessoas do lugar (se souber a língua, claro) e troque impressões francas, mas educadas. E por favor, pare de ficar postando todos os seus passos no Instagram ou no Facebook.  Apenas pare.

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