Entenda a cruzada do governo Trump contra pessoas LGBTQIA+
Saiba o que já foi feito pelo atual governo e como ficará a situação das pessoas da comunidade

A eleição de Donald J. Trump para um segundo mandato não-consecutivo marca a história não só pela raridade do feito, mas pela inauguração de um dos governos mais reacionários da história americana moderna. Além dos imigrantes e refugiados, o grupo mais perseguido está sendo o dos LGBTQIA+ vítimas de censura, negação de direitos e até retirada de proteções contra discriminação.
Desde antes da campanha oficial, o republicano empoderou e se cercou com os mais radicais conservadores de todo país, prometendo a reversão de diversas conquistas obtidas a duras penas por grupos minorizados.
O partido republicano é intimamente ligado a movimentos evangélicos radicais e o setor mais conservador da igreja católica, de modo que, ao menos nos últimos cinquenta anos, seus membros e constituintes tendem mais ao conservadorismo que suas contrapartes democratas. Assim, a rejeição da diversidade sexual e de gênero é uma das pautas mais caras aos republicanos, em especial durante e após a crise do HIV-AIDS, quando o pânico foi politicamente conveniente.
Acadêmicos e autores críticos como Sarah Schulman, Samantha Allen, Lauren Berlant e muitos outros afirmam, todavia, que o partido republicano usa o “medo dos gays” (e dos imigrantes) quando, por exemplo, há uma carência de propostas concretas, assim, colhendo dividendos eleitorais através da semeadura do pânico e demagogia.
Logo no primeiro dia de mandato, o milionário assinou a ordem executiva “Defendendo Mulheres do Extremismo da Ideologia de Gênero”, considerado um ataque frontal contra todas as pessoas trans do país: desde então, o governo só reconhece dois gêneros, necessariamente apontados no nascimento, negando a guarida legal de toda e qualquer redesignação posterior.
Como se não fosse suficiente, o mesmo ato também interrompe todo e qualquer processo de mudança de status ou nome em documentos federais, reverte procedimentos em curso, proíbe funcionários públicos de tratarem cidadãos por pronomes que divirjam do gênero apontado ao nascimento e, ainda, proíbe todo e qualquer financiamento por recursos federais a instituições que promovam o contrário.
A nova gestão busca agora tornar ilegal toda e qualquer ação de reafirmação de gênero em menores de idade (21 anos), ainda que não seja cirúrgica: a ação de bloqueadores hormonais ou de acompanhamento terapeutico não-repressivo está sob ataque e só não foi aprovada devido ao fato de que a maioria legislativa republicana no Congresso Americano é a menor em toda a história moderna. Por esta mesma razão, a extinção do casamento igualitário também não foi pautada, dado que uma minoria republicana ainda não está confortável em reverter a medida aprovada durante a gestão democrata de Joe Biden.
Trump ordenou também a censura de menções à diversidade em todos os documentos oficiais, o que vem gerando medo e confusão, especialmente para os que dependem dos registros federais para pesquisa e manutenção de documentos históricos. Recentemente foi noticiado que a medida foi tão draconiana e arbitrária que ameaçava os registros relativos ao avião B-29 responsável por transportar e soltar a bomba nuclear sobre Hiroshima em 1945. O risco real se daria por culpa de seu nome dado ao bombardeiro, “Enola-Gay” – uma fúnebre homenagem a Enola Gay Tibbets, mãe do piloto.
Por fim, ressalta-se a perseguição do governo republicano às cotas e inclusão: foi determinado o imediato corte a todo e qualquer programa de DEI (Programas de Diversidade e Inclusão), que funcionam como ferramentas de equalização para todas as minorias e minorizados, incluindo a população LGBTQIA+. Para além dos órgãos de governo, o milionário de Mar-a-Lago tem promovido perseguições oficiais a universidades que promovam estes programas, algumas delas as maiores do planeta: acusados de gastar dinheiro público para “dividir o país por raça ou identidade de gênero”. Repasses a universidades passam, portanto, a estarem condicionados ao fim de programas DEI e ao banimento de “conteúdos ideológicos”, incluindo cursos que abordem identidade de gênero fora da norma binária.
Os americanos que estão enfrentando as perseguições ideológicas do governo de extrema-direita eleito ainda possuem algumas – poucas – ferramentas para a manutenção de suas conquistas e, enfim, dignidade. A pressão das ruas e o assédio jurídico, especialmente após a declaração de guerra do governo federal contra a alma mater dos maiores advogados do planeta, está assustando a Casa Branca. Não se sabe se Trump recuará e voltará a ser mais retórico do que efetivamente reacionário em suas políticas, porém, está claro que implementar uma visão radical e tradicionalista de uma América branca, héterossexual e cristã não será tão fácil.