Maratona ‘Ainda Estou Aqui’ – Cinco filmes sobre a ditadura militar brasileira

Listamos 5 obras que também falam do período de ditadura militar no Brasil

Filmes sobre a ditadura no Brasil
Confira algumas obras que falam desse período da história brasileira Crédito: Arquivo Nacional

Com o sucesso de ‘Ainda Estou Aqui’, longa dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres e Selton Mello, o país volta a debater a delicada relação de seu passado com as violações de direitos humanos ocorridas entre 1964 e 1985. A obra prima do cinema nacional, contudo, está longe de ser a única a explorar este aspecto de nossa história, que, ainda que de forma a honrar nosso passado, deve sempre ser lembrado.

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Assim, buscando homenagear o sucesso internacional brasileiro na semana anterior à premiação dos Oscars, e, também, reforçar a memória de quem não conhece a fundo o período, propomos uma maratona de cinco filmes que trazem luz para a realidade que era viver sob a ditadura militar. 

  1. PRA FRENTE BRASIL (1982)

Estrelado por ícones da teledramaturgia brasileira, o longa retrata o período mais sangrento do regime, os chamados “Anos de Chumbo” (1968 – 1974), marcados pela presidência do ditador Emílio Garrastazu Médici. Na obra do diretor Roberto Farias, Jofre (Reginaldo Faria) é confundido com um militante esquerdista, sequestrado por agentes do Estado, e brutalmente torturado. Enquanto isto, o Brasil vibra com a Seleção Canarinho na copa de 1970, embebido pelo patriotismo e cegos ante a censura promovida pelo Estado Brasileiro. Cabe a sua esposa, Marta (Natália do Valle), e seu irmão, Miguel (Antônio Fagundes), buscarem o paradeiro do desaparecido, em uma eletrizante trama.

Curiosamente, o filme foi lançado em 1982, ainda sob a ditadura, o que gerou uma reação dura por parte do regime do então ditador João Figueiredo. Por terem aprovado o financiamento do filme e permitido que tal pauta alcançasse os cinemas, a cúpula da Embrafilme foi demitida sumariamente: posteriormente, o maior afetado, Paulo Amorim, se tornaria um importante membro do Partido dos Trabalhadores, ministro de estado e atualmente é Assessor-Chefe da Assessoria Especial do Presidente Luís Inácio Lula da Silva. 

  1. BATISMO DE SANGUE (2007)

Ainda sobre os “Anos de Chumbo”, o longa de Helvécio Ratton conta a história de frades dominicanos envolvidos com a resistência à ditadura. Frei Tito (Caio Blat), Frei Betto (Daniel de Oliveira) e outros membros do clero ficam horrorizados com as violações promovidas por agentes do Estado, e ativamente passam a auxiliar logisticamente a ALN (Aliança Libertadora Nacional), grupo de resistência liderado por Carlos Marighella. O filme, bastante gráfico em sua proposta, explora as consequências de se opor a um Regime violento, quando o temido Delegado Fleury (Cássio Gabus Mendes), notório torturador, se confronta com os frades.  

O longa não é recomendado para os que são sensíveis, porém, ainda é importante em demonstrar os horrores que se passavam nos porões da ditadura, e como a tortura causa cicatrizes para além do corpo físico. Nele, também, é possível compreender o papel da igreja católica – em especial das comunidades eclesiásticas de base – na resistência, ainda que passiva, ao regime. 

  1. MARIGHELLA (2021)

Citado recentemente, Carlos Marighella teve sua história retratada no longa dirigido por Wagner Moura, estrelado por Seu Jorge, Adriana Esteves e Bruno Gagliasso. A obra explora o lado da resistência ao Regime, em especial a ALN, encabeçada pelo ex-militar, poeta e quase-engenheiro baiano. Pautando as escolhas morais de resistir e responder ao terrorismo-de-estado com a luta armada, o longa traz luz à figura do líder revolucionário, considerado pela Ditadura como um perigoso terrorista. 

Para além dos vieses e da discussão acerca de como as figuras, em especial as de liderança, nunca são binárias – boas ou ruins -, a obra tem o papel de questionar o quanto é complicado resistir a um regime violento. Na época, o então presidente Jair Bolsonaro reagiu publicamente ao longa, em mais uma de suas defesas enfáticas das ações violentas de repressão do Estado nos anos 60 e 70 e rejeição de provas de crimes cometidos pelas Forças Armadas.  

  1. O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? (1997)

Tratando novamente da luta armada, o sucesso de Bruno Barreto explora a vida de militantes que decidem se unir à luta armada da ALN e do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) e promover o sequestro de um embaixador para que possam libertar presos políticos. Marco por sua constelação de artistas, o longa traz Pedro Cardoso no papel do então guerrilheiro Fernando Gabeira (hoje colunista e jornalista), assim como a indicada ao Oscar, Fernanda Torres, no papel de Maria Augusta Carneiro Ribeiro, e Selton Mello, também de Ainda Estou Aqui, na pele de Vladimir Palmeira. O filme conta também com a participação de Luiz Fernando Guimarães, Alan Arkin, Matheus Nachtergaele, Cláudia Abreu e, ainda, a própria Fernanda Montenegro. 

O longa retrata a dubiedade das ações da resistência armada, de seu desespero ante à realidade dos fatos. Ademais, assim como na sugestão previamente indicada, promove-se uma reflexão de como resistências, por vezes, são sangrentas e pouco gloriosas, bastante distantes do romantismo hollywoodiano.

  1. ZUZU ANGEL (2007)

Talvez uma das mais famosas vozes públicas que acusavam o Estado Brasileiro de seus crimes tenha sido a da estilista Zuzu Angel. O filme, protagonizado por Patrícia Pillar, de mesmo nome retrata a vida da importante figura que revolucionaria a moda brasileira, estilhaçada pelo sequestro e brutal assassinato de seu filho por parte do aparato estatal ditatorial em 1971. A artista, então, passa a buscar incessantemente por justiça e trazer o caso para holofotes internacionais, usando seu prestígio global para que o caso fosse conhecido. Anos mais tarde, em 1976, a estilista seria assassinada por agentes do Estado no túnel carioca que hoje leva o seu nome, em um acidente automobilístico forjado. 

O filme também ecoa a dor de uma mãe que decide vocalmente enfrentar um regime violento culpado pela destruição de seu lar, o que demonstra o quão comum era a história durante o período. Nele, é possível verificar, também, o quanto a justiça brasileira falhou em honrar as vítimas do Estado, e como inúmeros criminosos que violam estatutos internacionais foram aposentados com honras e prestígio pelas Forças Armadas Brasileiras.

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