Entrevista: Bernarda Maia – Scrum Master

Bernarda Maia ou Bernie – seu apelido na Aussie – é Scrum Master e trabalha na área de TI na Austrália onde mora há 9 anos. Ela ama viajar de carro, moto ou avião, não importa, pois o objetivo é registrar com sua câmera os lugares que visita.

MV – Qual a sua Maior Viagem? Por quê?

BM – Vir para a Austrália está sendo a maior viagem que já fiz. Vim para cá em 2007 e depois de quase 9 anos, ter conhecido quase todos os estados – falta a Tasmânia, e ainda não ter visto tudo eu decidi que só saio daqui no dia que achar que estou satisfeita, que vi o suficiente. A Austrália tem tantos lugares pra visitar e são tão diferentes um do outro que vale a pena viajar muito por aqui pra conhecer. Nos últimos 4 anos todo final de ano – entre Natal e Ano Novo – viajo pelo país.

MV – Qual local você ainda não conheceu, mas gostaria de conhecer?

BM – Sou louca pra conhecer alguns lugares da Ásia. Tailândia, Malásia, Camboja e Vietnã estão no topo da lista. Conheci tantas pessoas destas nacionalidades aqui e o que eles contam de seus países deixou a minha curiosidade muito aguçada, além da culinária maravilhosa especialmente dos dois primeiros países mencionados. Porém não quero viajar sozinha pois muitos dizem que não é muito seguro, por isto preciso arranjar um parceiro de viagem que esteja interessado neste roteiro. Alguém?? (risos)

MV – O que não pode faltar na mala?

BM – Se estiver indo curtir o verão, protetor solar pois viro camarão. Teve umas férias que esqueci e no primeiro dia peguei um sol fortíssimo que me torrou e eu não aproveitei tanto o local quanto queria. Se estiver indo curtir o inverno, meias térmicas, pois sinto um frio no pé que mal consigo andar!

MV – Como é morar na Austrália? Quais as principais diferenças que você assinalaria em relação ao Brasil?

BM – A Austrália é um país lindo. Assim como o Brasil as belezas naturais são evidentes pra qualquer lugar que você olhe. Eu morei em Melbourne e Sydney mas conheço quase todas os estados e natureza é o que se tem mais por aqui para se explorar. Desde as barreiras de corais, pra quem gosta de mergulho, até hiking em diversos parques nacionais passando por esqui, camping e surfe.

Acho que uma grande diferença é que aqui a qualquer lugar que você vá existe uma infraestrutura excelente. Lembro que no primeiro ano que estava aqui uns amigos locais me convidaram pra passar um dia no Parque Nacional Yarra Ranges para fazermos caminhadas pelas cachoeiras. Lembro que fui com tênis pra caminhar em terra, jaqueta a prova d’água, enfim toda preparada. Ao andar pelo parque todas as caminhadas tinham sinalização informando a distância, o tempo de duração médio ida e volta. Nível de inclinação e um lembrete pra levar água, protetor solar, chapéu. A outra surpresa: as caminhadas eram em superfície elevada. Muitos parques, pra evitar destruição da natureza, constroem plataformas de metal sobre a superfície para que turistas possam andar sem perigo protegendo também o ambiente.

Aqui moradia e comida são caríssimos, pra quem não trabalha aqui sempre que vem se assusta, mesmo sendo de países onde a moeda é mais forte, como a Europa. Como exemplo, moro num apartamento médio de 2 quartos com garagem num bairro médio no Norte de Sydney, uns 20 min de trem da cidade. Pago o equivalente a R$ 7456 por mês. Sair pra jantar sem dividir comida dá uns 200 reais. Transporte por semana dá uns 100 reais. Ou seja, se você vier visitar, venha com dinheiro.

MV – O que você sente falta na Austrália, em relação ao Brasil?

BM – Com relação aos que vivem aqui, acho que uma coisa que falta na Austrália é variedade de comida. Desde que cheguei isto melhorou mas me lembro da quantidade diferente de queijos, frios, iogurtes, sucos que eu encontrava no Brasil e aqui, acho que pela distância em relação ao resto do mundo e tamanho da população, a variedade ainda é limitada.

Lembro que no começo, quando entrava no supermercado chegava a ficar meio frustrada por não conseguir encontrar o que queria. Claro que com o tempo isto passa, até porque você passa a conhecer várias outras opções de culinária, especialmente asiática, que não encontraria no mercado brasileiro e começa a apreciar estas opções.

MV – Quais cidades visitou e quais características marcantes de cada uma na sua opinião?

BM – Aqui na Austrália existem 6 estados e dez territórios. Eu já conheci várias cidades de cinco dos estados: Nova Gales do Sul, Victoria, Queensland, Austrália Ocidental e Austrália do Sul. Conheci também cidades do Território do Norte, o Território da Baia de Jervis e a capital Canberra que fica no Território da Capital Australiana (ACT).

Será difícil falar de todas mas posso falar das que mais gostei e algumas informações gerais de algumas áreas. As maiorias das cidades das costa leste e oeste são regiões de praia. O leste é mais úmido e a vegetação mais verde. O oeste mais seco e cheio de dunas de areia e vegetação rasteira. No sul é bem mais frio, Victoria chega a nevar forte em algumas cidades na época do inverno, assim como no interior da Nova Gales do Sul. Thredbo é uma das regiões mais populares de ski e também bem cara, mas se você curte esquiar é onde tem as melhores pistas. Eu adoro a Austrália do Sul. Na minha opinião, a região do Vale do Barossa é não só lindíssima como também tem as melhores vinícolas da Austrália. Se você curte vinho Shiraz, você tem que ir a esta região.

MV – A Austrália tem parques e reservas naturais incríveis. Você chegou a visitar algum? Se sim, qual e o que achou?

BM – Conheci tantos! Recentemente fui às Ilhas de Abrolhos. Sim, existe Abrolhos aqui também. Não consegui descobrir se a origem do nome é a mesma da nossa, Abra os olhos. Pode ser que sim, já que o complexo de 122 ilhas foi descoberto após um navio Holandês ficar encalhado e afundar no século 17. Os holandeses não viram que as águas eram muito rasas devido ao corais. Mas o motivo pelo nome em português, não vi nenhuma menção.

As Ilhas são lindas! Sobrevoar por elas e poder passar o dia na ilha dos Wallabies (a única permitida a turistas e que ainda preserva os Wallabies que lá moram) foi uma experiência única e muito privilegiada. A beleza intocada do local é de tirar o fôlego e no meu caso, foi de tirar lágrimas dos olhos de emoção ao ter o privilégio de ver tal beleza. Recomendo muito aos que forem visitar a Austrália Ociendental de ir até a cidade Geraldton ao Norte de Perth e pegar um avião de lá paras as ilhas.

Outro lugar muito interessante por sua formação geológica que fui na Austrália Ocidental foi ao Parque Nacional de Namburg onde fui visitar o Deserto de Pináculos (Pinnacles Desert). Há algumas teorias de como os Pináculos se formaram mas os cientistas ainda não chegaram a um consenso. O parque foi criado de forma que você possa dirigir por ele e explorar à pé também.  Para quem gosta de fotografia como eu é um local bem bacana pra se fazer umas fotos diferentes.

Aqui em Nova Gales do Sul, existe o Parque Nacional das Montanhas Azuis que é imperdível para quem vem para cá. O reflexo da luz nas montanhas, quando visto de longe faz com que elas realmente pareçam azuis. A quantidade de passeios que se pode fazer na área é enorme. Um que eu recomendo muito é ver a formação rochosa das Três Irmãs e se puder descer a escadaria que é muito íngreme até elas, vale muito a pena.

MV – Quais os costumes mais curiosos nos australianos?

BM – Australiano assim como brasileiro adora um churrasco ou como eles mais comumente chamam usando gíria, Barbie. A churrasqueira que eles usam é a gás; existe carvão mas não é popular. A grande diferença do BBQ deles para o nosso é que eles cozinham salsicha ou linguiça com muita cebola dourada e hambúrguer. Carne mesmo, é só pra quando brasileiro aparece pra fazer. Eles adoram o nosso churrasco, mas não são tão fissurados como a maioria de nós. “Aussie” adora praia. Tanto ou mais que brasileiro. Uma curiosidade é que o governo mudou o material que o dinheiro é produzido para plástico pois muitas notas eram destruídas pela população que esquecia o dinheiro na bermuda e entrava na água salgada.

MV – Existe algum lugar no mundo que você conheceu e não gostou? Por quê?

BM – Eu confesso que nunca viajei para muitos países. Mas os países que visitei passei bastante tempo conhecendo. Acho que teve um lugar na Alemanha que fui e não recomendo, embora seja muito popular. Munique. Eu fui na época do Oktoberfest e a cidade estava lotada e toda decorada, não sei se por isto achei muito suja e completamente diferente de todo o resto da Alemanha que já havia visitado e achado lindo. Munique é um local que não gostei, embora ter ido visitar a cervejaria Paulaner foi a única coisa interessante que fiz por lá.

MV – Janela ou corredor? E no voo para a Austrália, qual o segredo para pegar o melhor lugar?

BM – Corredor sempre. Especialmente numa viagem que pode durar mais de 30 horas e você vai precisar andar pelo avião. Acho que a viagem mais curta para Sydney dura 25 horas e é a que sai de SP e vai pelo Chile. Outro motivo, a maioria dos aviões que fazem a rota pra Sydney tem o formato de assento 3-4-3 na classe econômica. Se você estiver viajando sozinho ou com 1 pessoa a mais, ter o assento no corredor te garante que a pessoa do corredor não vá cair no sono e te prender por horas no acento.

Eu sempre recomendo voar pra cá de Qantas e Lan Chile. São excelentes companhias aéreas e geralmente são as que tem as melhores escalas. Existe o voo pela Emirates que também é uma boa companhia aérea mas o voo é mais longo. Se escolher esta rota, recomendo ficar uns dias no Emirados Árabes antes de continuar a viagem, pois geralmente a espera no aeroporto de lá é bem longa. Se for voar pelo Estados Unidos, lembre-se que você terá que ter o visto pra entrar lá assim como pra cá.

MV – Uma dica do que é imperdível ao visitar a Austrália para o leitor do Maior Viagem.

BM – Se você vem à Austrália acho que a coisa mais bacana é ver canguru no seu habitat natural. Na época do verão é quando eles tem filhotes, então você consegue ver muito Joey (como os cangurus bebês são chamados) dentro da bolsa da mãe. Um dos lugares aqui em NSW que sempre consigo ver, que é um lugar lindo de se visitar é Jervis Bay. Imperdível!