Fim do sonho: Guerra de Trump com a edução afeta estudantes estrangeiros
Estudantes relatam drama depois da decisão da suspensão de vistos

O cabo de guerra entre Donald Trump e as universidades americanas ganhou contornos cada vez mais impactantes: o republicano ordenou a suspensão total do processo de concessão de novos vistos F-1, o que efetivamente impede qualquer estrangeiro de legalmente aplicar para estudar no país.
A ação é mais uma dentre dezenas de medidas radicais tomadas em desafio à prestigiosa nata do ensino superior privado norte-americano, encabeçada pela Universidade de Harvard, que resiste às pressões federais de intervenção no currículo, políticas internas e admissão de matrículas.
“Fui aprovado para o PhD nas universidades de Yale, Berkeley e Columbia.” revela Leonardo, estudante europeu de pós-graduação “Eles negaram um visto de estudante, algo fácil de conseguir no meu país, sem nenhuma explicação. Eu tenho medo de que com essa paralisação eles não reconsiderem. Eu planejei minha vida pensando que poderia ir até lá para aprender. Tive um esforço imenso… tenho ansiedade só de pensar que pode ter sido por nada, sabe?”.
Leonardo não está sozinho, infelizmente: somente em Harvard, estima-se que 27% dos estudantes não sejam americanos, assim, dependentes de vistos F-1. Olhando para o caso dos brasileiros, estima-se que, somente em 2023, mais de 41 mil estudavam nos Estados Unidos.
“A gente faz currículo e compra assessoria, arruma contato, às vezes até consegue… só pra tomar esse banho de água fria, por arbitrariedade e briguinha. É triste”, lamentou Maria, pós-graduanda fluminense.
Para além da negação de entrada, os estrangeiros que estão no país vivem em um permanente clima de tensão. Se tornaram rotineiros os casos de estudantes, às vezes radicados pela vida toda no país, sendo abordados e levados por agentes não uniformizados em carros sem marcação.
O brasileiro Marcelo Gomes mora desde a infância em Massachusetts, e foi abduzido desta forma em plena atividade escolar: o sumiço do brasileiro causou comoção em amigos e vizinhos, e, após muitas horas, descobriu-se que o jovem estava detido em uma cela comum com outros 30 homens. O caso se tornou emblemático a ponto da governadora Maura Healey, democrata, exigir a reversão deste caso publicamente.
A alternativa acaba sendo desistir de ir para a primeira opção. “Eu vou tentar procurar alternativas na América Latina ou Europa. Infelizmente, o dinheiro que perdi, e o tempo, é claro, não voltam. Jogaram fora minha matrícula, um PhD americano”, desabafa Luísa.
Universidades, ONGs e associações pressionam por garantias de estabilidade de estudantes estrangeiros em solo americano e a reversão do bloqueio, para que assim os que já estão aprovados possam iniciar seus estudos. O sonho americano, para muitos, parece estar se tornando um pesadelo inescapável.
Os nomes dos estudantes foram alterados para preservar a identidade dos mesmos