Viagem para Antártica: Desbravando o Continente Gelado

O embarque para a viagem mais incrível da minha vida se deu no pequeno porto no coração da simpática Ushuaia. Bem ali em frente uma placa atrai a atenção dos turistas sinalizando que estamos no “fim do mundo”. Mas meu destino era ir além e partir dali para um ponto ainda mais distante.

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Era hora de embarcar no SH Vega, novo navio as Swan Hellenic Cruises, para conhecer o sétimo continente da minha lista. Nem desconfiava que estaria fazendo a viagem mais transformadora que já tive.

Convidado pela armadora, embarquei com a responsabilidade de transmitir em palavras e imagens aqui tudo que vivi nos 11 dias dessa viagem para Antártica. A única certeza que tenho é que, apesar de todo esforço, jamais conseguirei traduzir tudo que nós viajantes experimentamos nos dias a bordo do navio. Faço dessa matéria então um aperitivo para que você leitor se apaixone pela ideia de “ir além do fim do mundo” e que assim consiga entender de fato tudo que essa experiência representa.

O privilégio de estar num lugar especial

A beleza estonteante do continente gelado, com o branco e azul dominante na paisagem cercada de gelos em pleno verão, somado a vida selvagem em seu estado mais intocável que ainda podemos apreciar no globo terrestre são os dois principais fatores que tornaram essa viagem especial.

Há ainda uma sensação indescritível de se sentir privilegiado em estar ali, em um lugar em que pouquíssima pessoas terão a oportunidade de conhecer. Mesmo que na temporada 2019/2020 mais de 70.000 turistas, segundo a Associação Internacional de Operadores de Turismo Antártico (IAATO), tenham viajado para a Antártica, chegar ao continente gelado pode ser considerado um privilégio. Para efeito de comparação, em apenas três dias a Torre Eiffel em Paris, recebe número maior de visitantes.

Tamanha exclusividade torna a viagem para Antártica algo especial e, ao mesmo tempo, ajuda na necessária preservação do continente. Uma série de cuidados e regras são rigorosamente cumpridas para garantir que o turismo não destrua o que é talvez um dos últimos ambientes na Terra em que ainda nos sentimos “invasores”.

Este entendimento é outro item que torna a experiência única. Parar para dar preferência a um pequeno e inofensivo pinguim que passa pelo seu caminho é regra e encantador ao mesmo tempo. A percepção é que ali somos apenas visitantes e não podemos, de forma alguma, interferir na rotina dos verdadeiros donos do lugar. Em alguns casos, como o encontro com leões marinhos, o distanciamento inclusive é segurança.

Uma experiência exclusiva

O que faz esse número de visitantes, embora crescente a cada temporada, seja ainda pequeno? Primeiro a distância física e dificuldade em acessar a Antártica.

Antes de chegar a plenitude das águas mais calmas na costa é preciso atravessar a Passagem de Drake, conhecida por ter as piores condições meteorológicas marítimas do mundo. Pouco terão a sorte de atravessar no que eles chama de “Drake as a lake” (Drake como um lago, em tradução simples). Enfrentei ondas de sete metros com toda segurança a bordo do SH Vega. Mas nem seus potentes estabilizadores são capazes de impedir a dificuldade em andar em linha reta sob essas condições ou até mesmo o bem estar a bordo (embora isso varie para cada viajante).

Outro fator importante é o alto custo de uma viagem para Antártica. Claro que toda complexidade, e no nosso caso todo conforto do SH Vega, o investimento não só é justificável como válido. Mas, a maior parte da população mundial não tem condições de investir parte de seu orçamento para uma viagem assim.

Por isso tudo, chegar ao continente gelado não era apenas estar (literalmente) carimbando meu sétimo continente no passaporte ou me deparando com um lugar de beleza única e vida selvagem impressionante. Estava ali experimentando algo único e especial.

A cada parada uma nova e impressionante descoberta

Atravessar o Drake foi apenas a primeira das experiências incríveis que vivi a bordo do SH Vega. Tudo nessa viagem para Antártica tem um sentido único: De ver do primeiro iceberg, celebrado até com aposta no navio de quem advinha o horário certo que teremos a vista, ao cruzamento do Circo Polar Ártico, brindado com festa a bordo. Da experiência incrível de avistar pela primeira vez, mesmo que ainda de longe a Antártica, até a emoção de pisar pela primeira vez no solo do sétimo continente.

Faço aqui uma pausa para descrever esse momento único na minha viagem. Já havia passado por algumas emoções como as anteriormente descritas, além da experiência de andar de caiaque pelo mar do continente por entre gelo e icebergs, de ter feito passeio por esse destino especial nos Zodiacs (botes que servem para embarque e desembarque no navio e para passeios no mar de região) e até de já ter desembarcado em solo. Já havia também avistado baleia, focas e até os onipresentes e fofos pinguins.

Mas foi quando o comandante anunciou antes do quarto passeio que pela primeira vez estaríamos pisando de fato do continente (até então descemos apenas em ilhas), que minha ficha caiu. Na tarde daquele terceiro dia na Antártica subimos em uma trilha de gelo para avistar do alto uma belíssima região. Mas a emoção estava em perceber a imensidão do privilégio que vivia naquele momento. Do quão única e exclusiva é esta experiência, que até mesmo colegas de jornalismo de turismo não terão uma oportunidade como essa. Vivi ali uma emoção indescritível e pude ver nos olhos marejados de muitos companheiros de viagem a mesma sensação.

Ainda há muitas experiências incríveis, como o contato próximo (respeitando o espaço e o distanciamento de segurança imposto) de uma vida selvagem única, a oportunidade de ver paisagens incríveis e passear ao lado de icebergs que são verdadeiras obras de arte da natureza. De visitar uma antiga base de pesquisa britânica, transformada em museu, ou tirar uma foto ao lado de um esqueleto de baleia na praia.

A cada desembarque um passeio diferente e surpreendente e também único, já que mesmo com uma programação o que irá determinar onde e se vamos desembarcar serão as condições climáticas do dia (são 160 lugares possíveis para desembarque, mas com restrições da quantidade de turistas em cada). Ou seja, mesmo quem embarcar no SH Vega para uma viagem para Antártica de 11 dias terá uma outra experiência. Um exemplo? Em um dos desembarques tivemos a sorte e privilégio de assistir uma foca em trabalho de parto bem na nossa frente.

Até mesmo nos últimos dias da viagem, quando comecei a achar que nada mais poderia me surpreender, tive a experiência de entrar com o SH Vega na caldeira de um vulcão ativo. Mais que isso, este último passeio da viagem ainda me reservou ver fumaça saindo do mar, instalações abandonadas que eram usadas por pescadores de baleia e uma escalada no vulcão com uma vista de tirar tanto o fôlego quanto o esforço de cerca de 1 hora de subida. Tudo isso em uma paisagem sem nenhum gelo, totalmente diferente do que avistamos nos dias anteriores.

Outro momento ápice é o Polar Plunge (mergulho polar), quando somos convidados a saltar no navio direto no oceano gelado. No meu dia a temperatura da água era de -1,5 C, mas mesmo assim me aventurei. A dose de coragem necessária vem da ideia de que esse tipo de viagem normalmente só se faz uma vez na vida e não participar dessa experiência poderia me trazer um arrependimento eterno.

A experiência a bordo do SH Vega

Na temporada atual 25 navios receberam autorização para fazer cruzeiros no continente. Mas escolher bem em qual embarcar é fundamental para que sua viagem para Antártica não se torne “uma fria” no pior sentido da expressão.

A principal vantagem de um navio boutique, como o SH Vega, é o acesso a todos os pontos disponíveis para desembarque na temporada, já que navios maiores tem restrições em alguns lugares, além da possibilidade de uma maior quantidade de passeios por dia. O processo de embarque e desembarque dos navios, feito através dos zodiacs, requerer cuidados específicos e por isso são mais complexos do que outros tipos de cruzeiros. Com a quantidade menor de viajantes, a Swan Hellenics oferece em média dois passeios por dia. Mas, com sorte em relação as condições climáticas, chegamos a ter até três no mesmo dia.

São 76 espaçosas cabines divididas em três categorias, a maioria com varanda. Chama a atenção o conforto das mesmas, que possuem uma lareira fake com direito não só ao visual mas até o barulho de uma verdadeira, e minibar completo e reposto diariamente. O banheiro também merece destaque por oferecer conforto equivalente ao de um hotel.

Para os passeios há o empréstimo de botas adequadas para pisar no gelo e cada viajante ganha de presente casaco impermeável para os desembarques, mochila e garrafinha de água de metal (plástico é proibido na Antártica).

A bordo do SH Vega encontramos ainda instalações que oferecem todo o conforto. Para relaxar podemos optar entre a piscina aquecida de bora infinita ou a jacuzzi (ambas externas), sauna com vidro para apreciar a vista ou a sala de massagem. Há ainda um salão de beleza a bordo e uma sala fitness.

O sistema all inclusive do cruzeiro oferece todos os passeios inclusos no valor (exceção do caiaque que é pago a parte) e gastronomia de alta qualidade 24 horas por dia. No restaurante são servidos café da manhã, almoço e jantar com alta qualidade e menu diferente a cada dia. No lounge, além do chá da tarde, biscoitos e frutas estão disponíveis ao longo do dia. No bar todo tipo de bebida estão inclusos no pacote.

Mas o grande luxo do SH Veja, além de seu design clean e confortável inspirado na Escandinávia, está mesmo na equipe a bordo. Os cerca de 140 membros da tripulação estão ali para fazer a experiência dos 152 hóspedes únicas. A proporção de quase 1/1 reflete o atendimento individualizado. Mas é a internacionalização da equipe, com pessoas de diferentes países, que garante um acolhimento único.

Outro destaque é a equipe de especialistas, responsáveis pelos passeios, que não só acompanha os viajantes a cada desembarque como nos explica mais sobre tudo que estamos vendo em briefings diários. Mais um luxo que torna essa viagem para Antártica realmente especial.